O futebol feminino tem crescido significativamente em Portugal nos últimos anos, conquistando cada vez mais espaço e respeito no cenário esportivo do país. Essa evolução reflete um esforço conjunto de diversas entidades e pessoas que têm trabalhado arduamente para promover a igualdade de gênero dentro e fora dos campos de futebol.

A história do futebol feminino em Portugal remonta há muitas décadas. A primeira partida oficial da modalidade ocorreu em 1969, entre o CF Benfica e o CS Marítimo. No entanto, a prática do esporte por mulheres só começou a ganhar mais visibilidade e popularidade nos anos 90, com a criação da Federação Portuguesa de Futebol Feminino e a participação da seleção nacional em competições internacionais.

Apesar desse avanço, o futebol feminino em Portugal ainda enfrenta muitos desafios. Até pouco tempo atrás, a diferença de investimento, infraestrutura, visibilidade e salários entre o futebol masculino e o feminino era muito grande. Mesmo as jogadoras de alto nível tinham dificuldades em se manter financeiramente e em conciliar a carreira esportiva com outras atividades profissionais ou acadêmicas.

No entanto, nos últimos anos, várias mudanças positivas têm ocorrido no futebol feminino em Portugal. Em 2016, foi criada a Liga BPI, a primeira liga profissional de futebol feminino do país. Essa liga garante às jogadoras um salário mínimo mensal, seguro de saúde e outras condições de trabalho mais dignas. Além disso, a Liga BPI tem sido transmitida pela televisão, aumentando a visibilidade e o interesse do público pelo futebol feminino.

Outro sinal do crescimento do futebol feminino em Portugal é o aumento do número de clubes e jogadoras em atividade. Atualmente, a Liga BPI conta com 12 equipes, mas há muitos outros clubes pelo país que têm investido na formação de jogadoras e na criação de equipes femininas. Segundo dados da Federação Portuguesa de Futebol, o número de jogadoras federadas em Portugal saltou de cerca de 4 mil em 2014 para mais de 14 mil em 2020.

Esse aumento do interesse e da prática do futebol feminino também tem se refletido na seleção nacional. Desde a década de 90, a equipe feminina de Portugal tem participado de diversas competições internacionais, mas sem grande expressão. No entanto, nos últimos anos, a seleção feminina tem evoluído muito e conquistado resultados importantes.

Em 2017, Portugal foi vice-campeão da Algarve Cup, um dos torneios mais importantes do futebol feminino mundial, perdendo apenas para a seleção dos Estados Unidos. Em 2018, a equipe lusa conseguiu se classificar para a Copa do Mundo Feminina pela primeira vez na história. Na competição realizada na França em 2019, Portugal não passou da fase de grupos, mas teve uma atuação digna e conseguiu marcar seus primeiros gols em mundiais.

Outra conquista recente do futebol feminino português foi a classificação para a Eurocopa Feminina de 2022, que será realizada na Inglaterra. Essa é a primeira vez que a seleção feminina se classifica diretamente para uma grande competição internacional, sem depender de repescagem ou convites.

O sucesso do futebol feminino em Portugal não se resume apenas às competições profissionais e internacionais. Há também uma movimentação forte nas categorias de base e no futebol amador, com várias iniciativas voltadas para a formação de jogadoras e a valorização do esporte feminino. Um exemplo é o Torneio Lopes da Silva, que reúne equipes de base de diversos países para competir em um clima de cooperação e inclusão.

O crescimento do futebol feminino em Portugal é resultado de uma série de fatores positivos, como o empoderamento das mulheres, a luta pela igualdade de oportunidades e a mudança de mentalidade da sociedade e dos dirigentes esportivos. No entanto, ainda há muito a ser feito para que o futebol feminino alcance um patamar de justiça, respeito e reconhecimento equivalente ao do futebol masculino.

Uma das principais demandas das jogadoras e dos defensores do futebol feminino em Portugal é a melhoria das condições de trabalho e remuneração. Mesmo com o avanço da Liga BPI, muitas jogadoras ainda ganham salários baixos e têm dificuldade em conciliar a carreira esportiva com a vida pessoal e profissional. Além disso, a visibilidade e a presença de patrocínios no futebol feminino ainda são insuficientes para garantir a sustentabilidade financeira das equipes e das jogadoras.

Outro desafio importante é o combate ao preconceito e à discriminação de gênero. Infelizmente, ainda há muita resistência e ignorância em relação ao futebol feminino, tanto por parte de torcedores quanto de dirigentes e mídia. É comum ver jogadoras sendo desrespeitadas e menosprezadas em entrevistas e comentários, ou sendo constantemente comparadas e subestimadas em relação aos jogadores masculinos. Esse tipo de comportamento só reforça a desigualdade e prejudica o desenvolvimento do esporte.

Para superar esses desafios, é preciso que todos os envolvidos no futebol, desde os clubes e as federações até o público e a mídia, sejam conscientes e comprometidos com a igualdade de gênero. É importante que sejam criadas mais oportunidades de formação, treinamento e competição para as jogadoras, assim como de visibilidade e valorização para o futebol feminino em geral. Também é fundamental que sejam combatidos e denunciados os casos de preconceito, assédio e violência contra as mulheres no esporte.

Em resumo, o crescimento do futebol feminino em Portugal é uma conquista histórica e promissora, mas que ainda requer muitos esforços e investimentos para assegurar sua continuidade e sua plena realização. O futebol feminino não é apenas um esporte, mas um direito humano fundamental, que deve ser valorizado e respeitado em todas as suas dimensões.

By admin